Produtores de leite estão sacrificando gado para enfrentar crise no setor

Pecuaristas de leite estão sacrificando gado para enfrentar crise no setor

Subsídios concedidos à Argentina e práticas desleais de comércio internacionais têm impacto negativo no mercado leiteiro do Brasil.

Por: Marlyse Alves

O Brasil, reconhecido como um dos maiores exportadores de leite do mundo, tem visto um cenário peculiar no setor leiteiro recentemente. Com um volume de produção que supera os 2,25 bilhões de litros anualmente, o país se destaca pela sua capacidade produtiva, porém, com as mudanças no âmbito internacional e o desnivelamento da balança comercial, essa posição está ameaçada.

Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), em 2023, o Brasil enfrentou um aumento significativo nas importações de leite, com a Argentina e o Uruguai fornecendo a maior parte dessa demanda, representando, respectivamente, 46% e 45% das importações. 

CRISE NO SETOR LEITEIRO

Mas por que um país que ocupa o terceiro lugar na produção mundial de leite está recorrendo à importação dessa commodity?

A resposta reside na conjuntura econômica que afetou os produtores brasileiros e uma combinação de fatores contribuiram para essa situação delicada. O afrouxamento das taxas de importação e a consequente entrada de leite estrangeiro no mercado nacional colocaram os produtores locais em uma posição de desconforto.

Minas Gerais, um dos principais estados produtores, concentra cerca de 27% da produção nacional, mas não escapou dos impactos negativos desse cenário. A desvalorização do leite esteve diretamente ligada ao excesso de oferta, resultado do aumento na produção doméstica e das importações crescentes.

Segundo Geraldo Borges, presidente da Associação Brasileira de Produtores de Leite, a redução nos preços pagos aos produtores, especialmente a partir de maio de 2023, gerou um desestímulo significativo, levando muitos deles a operar com prejuízo. Dessa forma, os pecuaristas estão sendo levados a produzir de forma que os lucros não superem os altos custos de manutenção do gado, sendo obrigados a sacrificar os animais.

POLÍTICAS DESONESTAS

Enquanto isso, na Argentina, a injeção de capital do governo para os produtores em 2023, juntamente com a desvalorização da moeda local, impulsionou as exportações do país, contribuindo para o aumento das importações de leite pelo Brasil. 

O presidente da Abraleite criticou a situação, destacando que os subsídios concedidos aos produtores argentinos lhes permitem exportar leite a preços mais baixos do que os custos de produção, resultando em uma competição desleal no mercado internacional.

Essa prática não apenas prejudica os produtores brasileiros, mas também distorce a dinâmica de mercado, comprometendo a sustentabilidade de toda a cadeia produtiva.

COMO REVERTER O PROBLEMA?

Em resposta a essa crise, o Conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou duas linhas de crédito especiais para cooperativas de produtores de leite, com um repasse total de mais de R$ 700 milhões, buscando fornecer algum alívio financeiro e apoio ao setor.

Embora o financiamento adicional possa ajudar a mitigar parte das dificuldades financeiras enfrentadas pelos produtores, os problemas como a desvalorização do leite, os altos custos de produção e a concorrência com importações mais baratas ainda persistem e podem exigir soluções mais abrangentes e de longo prazo.

Além disso, a eficácia das linhas de crédito pode depender da capacidade dos produtores de acessá-las e utilizá-las de maneira eficiente. Em alguns casos, a burocracia envolvida na obtenção de crédito pode impedir a maioria dos produtores de acessar esse financiamento.

Em meio a esses desafios, os produtores brasileiros continuam enfrentando dificuldades para manter seus negócios sustentáveis. A busca por soluções eficazes e políticas de apoio torna-se cada vez mais urgente para garantir a viabilidade e a prosperidade do setor leiteiro no país.

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